Um grande relógio tiquetaqueia na minha cabeça. Junto com seu barulho, vêm à tona lágrimas e desilusão. Param as lágrimas. Antes do fim, perto do fim. Quase lá, quase. Os segundos, os minutos, as horas passam. Esvaem-se como a areia no interior de uma ampulheta indiferente. Quisera eu que esse relógio fosse inerte. Que se congelasse para sempre, e que por lá permanecesse. Infelizmente, não acontece. Ele continua lá, com seus ponteiros grandes e pesados, movendo-se a cada fração de tempo. Ficam pesados os cílios, quase que imitando os ponteiros do relógio. Uma lágrima revela-se, tímida. Mal sabe a pobre lágrima que é somente um prelúdio: muitas outras estão por vir. Gritos abafados tentam escondê-la, mas não conseguem. Afinal, de que força são os gritos comparados à uma depressão insípida? Agarro-me ao único sentimento que me faz lembrar que aquilo tudo é real: nostalgia. As lágrimas não cessam - pelo contrário, continuam se derramando, como num copo cheio deixado do lado de fora numa tempestade - e irrompe uma alegria momentânea em todo meu corpo. Uma corrente de energia percorre minhas veias. O sentimento passa. Mais uma vez, afundo num mar de tristeza. Lentamente, as coisas começam a perder a cor. Junto com suas nuances, se vão as alegrias. As estrelas chegam, costurando com um fio de lua meus cílios, um a um. Cai a noite, sem explicação.
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